Em sentido literal a palavra Yoga (sânscrito) significa “união”. De acordo com Patanjali (autor dos Yoga Sutras): “Yoga é o nirodha (regulação, domínio, integração) das modificações (padrões de pensamento grosseiros e sutis) da mente.”
Atualmente, a prática de Yoga é amplamente conhecida e praticada pelos seus benefícios físicos. No entanto, originalmente, o Yoga não era encarado apenas enquanto prática de exercício físico: muito mais do que isso, era uma prática profundamente espiritual destinada à compreensão da verdadeira natureza de si e do outro, bem como da essência de tudo. Segundo um dos Upanishads (escrita védica): “Quando os sentidos estão aquietados, quando a mente está em repouso, quando o intelecto não vacila – então, dizem os sábios, a pessoa atingiu o estágio mais alto. Esse controle firme dos sentidos e da mente é definido como Yoga .”
Os princípios da não violência, verdade, não roubar, moderação, desapego, pureza/limpeza, contentamento, autodisciplina, introspeção/estudos espirituais, rendição/entrega ao absoluto constituem os 10 princípios que devemos ter em conta quando nos envolvemos na prática espiritual do yoga.
Mas o que acontece à nossa mente e corpo, com base na evidência científica atual, quando praticamos yoga?
Seguindo o princípio da “união” a prática de Yoga é encarada como unificadora do corpo, mente e espírito e tem-se tornado muito útil no Ocidente enquanto ferramenta de gestão de stress. Integra mais elementos meditativos que qualquer outra prática física. As posturas praticadas (asanas) parecem modular a regulação do sistema nervoso simpático e o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal em pessoas com sintomatologia depressiva, facto que se verifica pela redução da pressão arterial, frequência cardíaca e nível de cortisol (a conhecida “hormona do stress”). Noutro estudo, a autocompaixão, a inibição do hipotálamo posterior (uma pequena glândula do nosso cérebro que nos mantém num estado de equilíbrio apesar das mudanças do dia-a-dia e que regula a produção de várias moléculas por parte de outras glândulas) e o nível de cortisol salivar mostram mediar a relação entre a prática de Yoga e o nível de stress.
Para além da conhecida influência nos níveis de stress, destacamos neste artigo o papel impressionante da prática de Yoga na regulação do nosso sistema imunitário (que, na verdade, não deixa de ser um fator contributivo na gestão do stress), na otimização do status anti-oxidante, na melhoria das funções cardíaca, metabólica (significativa no papel que tem na gestão da diabetes mellitus) e pulmonar (principalmente nas posturas de back-bending) e até na inibição do desenvolvimento de células cancerígenas e possibilidade de regressão de certos tumores (falaremos destes efeitos fisiológicos com maior detalhe num próximo artigo).
A nível cerebral, estudos demonstram um efeito positivo da prática de yoga na estrutura e funcionamento de certas áreas, muitas das quais envolvidas no processo de envelhecimento e atrofia cerebral (características presentes, por exemplo, nas doenças neurodegenerativas); exemplos dessas estruturas são o hipocampo, a amígdala, o córtex pré-frontal, o córtex cingulado e várias redes neuronais. Para além do mais, a metacognição e proprioceção corporal intrínsecas à prática de yoga estimulam as funções cerebrais de atenção, memória e funções de coordenação superiores. Para além de vários efeitos no cérebro relacionados com a sua função, a prática de yoga mostrou já também afetar a espessura do córtex: quando praticado de uma forma consistente e continuada não só contribui para prevenir a atrofia cerebral, como permite aumentar a espessura cortical, mostrando-se uma prática promissora na gestão das doenças neurodegenerativas e no “lentificar” do processo de envelhecimento do cérebro.
No nosso espaço acreditamos, assim, que o lugar da prática de Yoga é um lugar de destaque e que não deve ficar pela experiência que têm connosco: queremos muito conseguir transmitir todos estes benefícios e promover a partilha de experiências em cada momento que passamos juntos e que cada um de vós possa levar para as vossas vidas um pouco do que de nós absorve.
Deixamo-vos aqui alguns tópicos de interesse e que vos podem motivar a, pelo menos, experimentar a prática.
Por fim, e de acordo com os antigos sábios, percebemos que “um corpo doente, fraco e impuro é um obstáculo ao esforço de ficar quieto, em silêncio e concentrar a mente num tal ponto para a prática da meditação”. Há melhor estímulo que este para nos concentrarmos um pouco em dar vida ao nosso corpo e utilizar essa energia para crescermos mentalmente? Experimentamos?
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Referências para consulta:
Gothe NP, Khan I, Hayes J, Erlenbach E, Damoiseaux JS. Yoga Effects on Brain Health: A Systematic Review of the Current Literature. Brain Plast. 2019 Dec 26;5(1):105-122. doi: 10.3233/BPL-190084. PMID: 31970064; PMCID: PMC6971819.
Pascoe MC, Thompson DR, Ski CF. Yoga, mindfulness-based stress reduction and stress-related physiological measures: A meta-analysis. Psychoneuroendocrinology. 2017 Dec;86:152-168. doi: 10.1016/j.psyneuen.2017.08.008. Epub 2017 Aug 30. PMID: 28963884.
Riley KE, Park CL. How does yoga reduce stress? A systematic review of mechanisms of change and guide to future inquiry. Health Psychol Rev. 2015;9(3):379-96. doi: 10.1080/17437199.2014.981778. Epub 2015 Apr 15. PMID: 25559560.
Beri K. The Impact of the “Yogic Lifestyle” on Cancer Prognosis and Survival: Can we Target Cancer Stem Cells with Yoga? Int J Yoga. 2017 May-Aug;10(2):95-98. doi: 10.4103/0973-6131.205512. PMID: 28546680; PMCID: PMC5433119.
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